top of page

 

Quando só

é possível
acostumar-se à companhia
fiel da dor
da solidão

que só a dor
de saber-se assim
faz seu cheiro
ora inodora, ora outonal
folhas secas ao chão

E só a dor
e nem amor
nem tristeza

 

Dor
só a dor 
de estar





CRIANÇAS

BRINCANDO

DE SER DEUS
A cidade adormece clara 
pelas luzes artificiais
Esquinas inteiras se divertem 
acolhendo em seu colo marginais

 

Lá vai o vagalume
Lá vai o menino
Mata prá ser farol

 

Lá vai o menino
Lá vai o vagalume
Lá vai o menino
Mata prá ser... 

 

Todos se divertem muito
Há ritmos diversos e intensos
Garotas cheiram a sexo
Garotos dizem coisas sem nexo

Lá vai o vagalume
Lá vai o menino
Mata prá ser farol

Lá vai o menino
Lá vai o vagalume
Lá vai o menino
Mata prá ser 
Farol...

A noite é tão divertida
Tome mais uma bebida
A noite é tão divertida
Vamos brincar de ser deus?

A noite é tão divertida
Tome mais uma bebida
A noite é tão divertida
Vamos brincar de ser deus?

Vamos brincar, vamos brincar, vamos brincar...
Brincar!!!





FREAK
Segundo o dicionário Michaelis a palavra “Freak” tem

os seguintes significados: 
 

Excentricidade, capricho, extravagância, aberração,

pinta, esquisito; 
Freak-out: ter alucinação como efeito de drogas

alucinógenas.
 

(Eu vou fazer o que eu sempre quis...
Eu vou fazer o que eu sempre quis!)





NO CAMINHO DAS

ÁGUAS

No caminho das águas
As pedras não se escondem, nem rolam
Nunca foi tão fácil flutuar

 

Não é milagre

É só isso tudo que o corpo produz e que

não se reduz ao corpo

 

Como sob efeito de droga, a multidão se aproxima

Numa dança quase “marítima”

O corpo ereto, o coração pulsa, olhares atentos
Ah! Queremos olhar além!

Isso, a esperança, não é uma crença. É só vontade de ver o futuro...

 

Ah! A esperança não é uma crença! É só vontade de ver o futuro!





ERA UMA VEZ
Era uma vez alguém que era feliz
Era uma vez alguém que sempre quis...

Encontrar alguém com quem conversar sobre o mar
Sobre formas de amar
E assim, ver o tempo passar

Prá ressuscitar um jeito de dobrar o ódio
Retomar as rédeas do próprio passado
Alterado por antepassados sórdidos
Deixar o passado passar

E seguiu dobrando esquinas destruídas,
Ruínas decrépitas, retinas deformando imagens míopes
De quem se arrastou por dias e dias ferido
Querendo trocar o próprio sangue por um minuto somente
De paz

E diante do desespero pouco sutil
De quem vê o demônio e sabe que é seu irmão

Ajoelhou-se no meio fio com mendigos e prostitutas e disse:
“deus! Prefiro a eternidade!”

 

(E deus disse:)


“Menino, és tão pouco coerência e maldade!
Erguerei em teu nome uma cidade
Vai! Meu nome te empresto.

Teu caminho será destro e tão perfeito
Que ainda esta noite te deito num castelo de esmeraldas 
e chão vermelho do sangue dos profetas

Atesta meu amor e se apropria do destino
És senhor de teu próprio caminho

Mas deita sobre os vis a espada da justiça
Arranca do pó toda a pista dos hereges que insistem em te foder

E guarda em teu peito só amor...”






CORES

 

Vozes, gritos, uivos não me calam

Pedras, paus, caminhos não me abalam
Homens sempre estão à minha espreita
A rua lá de casa é bem estreita
Cada esquina esconde um perigo
O destino quer brincar comigo
Encho o peito, pareço altivo
Ninguém vai me passar um curativo
Miram-me com falsa piedade
Querem ver-me longe da cidade
Acham que eu posso ser bandido
Sabem que no fundo estou fodido
Sigo olhando sempre para frente
Sinto como se estivesse ausente
Sabem que, no fundo, estou fodido

Porque meu filho é negro


O segurança do banco é negro
O caixa do mercado é negro
O motorista da van é negro
Meu filho é negro

Quem dirá primeiro ao garoto
Que o futuro dele é escroto
Quem dirá com normalidade
É um preto bom prá sua idade
É preto, mas é decente
Destaca-se de sua gente
Trata-se de um preto de alma branca
Diz a moça sempre muito franca
Cotas não é algo racional
Ouvirá num tom bem casual

Isso aí não é religião

Manda o sempre muito bom cristão

Querer demais é incoerente

Dirá o branco sorridente
E eu direi assim de modo explícito
Meu filho é negro

O segurança do banco é negro
O caixa do mercado é negro
O motorista da van é negro
Meu filho é negro

 

Eu não sou inimigo
Não relativizo
Eu não sou bandido
Cidadão inativo
Pária serviçal
Além do bem e do mau
Não sou mal necessário
Não valho seu honorário
Não relativizo
Eu não sou bandido
Eu não sou bandido

O segurança do banco é negro
O caixa do mercado é negro
O motorista da van é negro
Meu filho é negro!




 

EU BARCO BÊBADO
Mesmo sendo barco ainda quase embriagado
Tendo adentrado em águas calmas e cristalinas
Não corro mais o risco de naufragar
À minha frente a luz do dia quer nascer
Às minhas costas as luzes da noite que persiste em sobreviver
Eu ao centro no ir e vir da maré a me jogar para a morte e a vida
Mas se as águas não oferecem perigo
O barco insiste em náuseas delirantes
Com o gosto da noite do dia que vai e que vem
Que vai e que vem
Vai e vem





SOU BRASILEIRO
Veja o Arpoador antes do entardecer
O horizonte infinito, o mar azul
Barcos de pesca ao longe, o céu é rouge
À tarde, de um lado é a areia
Do outro as mais graciosas e lindas garotas do “jogging”
O sal nas coxas, o céu das moças sadias

À noite viados beijam-se, fodem-se, chupam-se
Meganhas mendigam migalhas chantageando-os
Às vezes casais miram as luzes da favela e o horror
do tráfico ou da milícia escondem-se em árvores de natal
De tempos em tempos os conservadores emitem opinião e elegem
um corrupto fascista ou cristão, tanto faz

no fundo eles são quase iguais

Tudo se esconde tudo, tudo se funde, tudo sucumbe
Tudo se esconde tudo, tudo se funde, tudo sucumbe
Tudo se esconde tudo, tudo se funde, tudo sucumbe
Nas diversas aquarelas do Brasil

A dura paisagem de São Paulo esconde outra beleza
Os altos edifícios são imensos falos eretos
Flertes discretos, olhares retos
Casais elegantes passeiam por longas avenidas
Raças, credos, opiniões em oposições pacíficas

Um caldeirão no asfalto, o ponto alto do pensamento


Elites brancas abastadas pagam caro prá ter segurança
Por entre os fálicos edifícios inocentes fumam crack
Pobres só vão ao Ibirapuera prá assistir a shows de pagode
E desaprender um pouco mais sob o patrocínio de supermercados
Gays podem ser atingidos por lâmpadas fluorescentes
E a cada vez mais ruidosa minoria repete: bem feito!

Tudo se esconde tudo, tudo se funde, tudo sucumbe
Tudo se esconde tudo, tudo se funde, tudo sucumbe
Tudo se esconde tudo, tudo se funde, tudo sucumbe
Babaca

 

Sou brasileiro com muito orgulho, sou brasileiro com muito amor!

Sou brasileiro com muito orgulho, sou brasileiro com muito amor!

Sou brasileiro com muito orgulho, sou brasileiro com muito amor!

Sou brasileiro com muito orgulho, sou brasileiro com muito amor!

 

Duas caipirinhas de vodka lá entre Ipanema e o Arpoador bastam para

entender esta sensação:

 

O Brasil é o país das cores vistas através da escotilha de um submarino...

 

 

ESPANTO

Quem ouviu a voz

De quem errou de mundo

Sabe que, no fundo, qualquer mundo é mundo

 

Há quem possa

se desprender de tudo

tornar-se mudo na voz e no coração

 

e há quem

como eu

cujo coração quebrado

busca o silêncio em vão

 

luz acesa

copo na mesa

perdi o encanto

e nada disso causa...

 

...e nada disso causa...

espanto...

 

 

 

 

 

bottom of page