
O Freak nasceu no século passado, quase na virada, quando eu já era um homem de 30 anos, idade avançada para alguém ingressar numa banda. O Cris tinha 20, Fre e Paulo 24. Eles e suas namoradas que acompanhavam os ensaios, eu confuso sexualmente - eu era o freak dos freaks - e a gente se divertia.
No estúdio da casa do Fre fumávamos (Fre e eu) e os outros inalavam. Alguns de nós bebíamos outros eram tão meninos ou tão caretas que permaneciam sóbrios no meio da loucura controlada.
Naquela época as torres gêmeas estavam em pé, o Francisco – pai do Fre – estava vivo, mas algo em mim queria, a todo custo, flertar com a morte.
Contraditoriamente, havia uma vivacidade enorme, eu era o dia e a noite, a luz e o breu eterno, era tudo ou nada e era muita tristeza. Eu fui um adolescente extemporão.
Até hoje não tenho idéia de como aqueles garotos, ainda tão relacionados com tudo o que havia de vida ao redor (sexo, juventude, força, beleza!), conseguiam estabelecer algum tipo de relação com alguém tão avesso a tudo isso como eu.
Há algo de extraordinário nos resquícios que nos chegam hoje daquele tempo e daquela banda. Éramos tão jovens, tão cheios de esperanças, tão virtuosos, éramos um protótipo do super-homem nietzschiano.
É também extraordinário que tenhamos nos reencontrado 14 anos depois e que tenha restado tanto afeto e, sobretudo, tanta música!
Vamos revelá-los – os afetos e as músicas – por aqui. Espero que gostem tanto quanto nós.
Eliseu Paranhos